Opinião

Sobre obsessões, glúteos e livros

Por Eduardo Ritter
Professor do Centro de Letras e Comunicação da UFPel
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Obsessão. Cada um tem ou já teve a sua. Não sou um especialista no assunto, mas se um dia eu cursasse Psicologia, certamente estudaria isso: obsessão. Existem vários tipos de obsessões. Há as obsessões consideradas mais "normais", como aquelas relacionadas a atividades rotineiras, como trabalho, estudo, literatura, cinema, redes sociais, programas de televisão, etc. Também existem as obsessões mais "construtivas", como alguém obcecado por viagens, ou por uma viagem específica, como por exemplo, "quero conhecer a China a qualquer custo". Além disso, há aquelas que ninguém gosta de admitir, que são as obsessões relacionadas a questões sexuais, vulgarmente chamadas de "taras".

Por exemplo, em certa fase da minha vida eu tinha obsessão em assistir a filmes do ator Selton Mello. E num deles, chamado O cheiro do ralo, de 2006, o protagonista, Lourenço, tinha várias obsessões: bundas, pagar mulheres para ficarem nuas na sua frente apenas para olhar, encontrar pedaços bizarros e artificiais do corpo humano para formar imageticamente o pai que não conheceu, dentre outras. Mas de todas as obsessões, uma era a campeã: a bunda. Na verdade era uma bunda em especial. E vamos e convenhamos, a atriz Paula Braun, que interpreta a personagem (uma garçonete), tem algo sensacional. Inclusive, acreditei na sinceridade das lágrimas do Selton Mello ao beijar seu objetivo de desejo numa das cenas finais do filme. Ele realmente deve ter chorado. Provavelmente esqueceu que era um ator, e ali, agarrado objeto de sua obsessão, desatou a chorar. O diretor deve ter achado a improvisação magnífica, e manteve a cena no filme. Espetáculo. Isso é cinema!

Com o passar dos anos, porém, acabei perdendo a obsessão pelos filmes do Selton Mello. Ainda acho ele um bom ator, mas não lembro qual foi o último filme dele que assisti. O cheiro do ralo, no entanto, ficou gravado em minha memória e creio que obsessões como as de Loureço pelos glúteos da personagem não passam tão facilmente quanto às relacionadas a um tipo específico de filme. Ou, quando passam, são substituídas por outras, como por exemplo, por outros glúteos de outras mulheres. Compreensível, meu caro e hipotético Lourenço.

Recordando-me desse filme, aliás, fiquei me questionando: e hoje em dia, quais são as minhas obsessões? Fácil identificá-las, difícil assumi-las publicamente. Por isso, vou revelar uma das poucas que me acompanham há uns bons anos: minha obsessão pela literatura. Aliás, os livros que leio podem desvendar muito das minhas obsessões impublicáveis, assim como os filmes que assisto. O cheiro do ralo que o diga.

Um bom final de semana a todos e todas.

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